"Fui num dia em que Deus saiu de passeio numa excursão da Junta. Ao meio dia, estava marcado, pic-nic no Caramulo. Quando chegaram, estava uma cigana que vendia doces e lia a palma da mão. Anjos e Santos puseram-se a brincar às filas do destino e a cigana foi lendo a mão a uns e outros. Deus não largava a lancheira porque era ele quem levava o pão e o vinho para a malta toda. Mas os outros puseram-se a meter com o altíssimo, que ele também havia de ir à cigana, que ele também havia de deixar ler a mão, pré-péu-péu, pré-péu-péu... E Deus fez-lhes a vontade. Estendeu a mão para a cigana, abriu-a... e ela nunca tinha visto mão assim! Ondeando os dedos encontrou-nos lá a todos, nomes e rostos, numa linha da vida sem confins. E a cigana a quem dificilmente se ouvia a voz sumida, assumiu-se de espanto: "É a gente o teu destino?!" E Deus pegou na lancheira e mandou-a comer com eles."
(João Torres)
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