terça-feira, 30 de janeiro de 2018

AH, SE EU FOSSE UM SACERDOTE...


AH, SE EU FOSSE UM SACERDOTE...
"Faz um certo tempo, era catequista em uma antiga capela em Marília quando um amigo padre sondou-me uma vocação sacerdotal. 'E aí, vai pro seminário?', arriscou. Refutei, afinal desejava ser pai. E assim se fez. Passados muitos anos, deparei-me com a figura de um tal Edson Oliveira Lima e seu jeito de ser e pastorear em minha querida Paróquia Sagrada Família.
A convivência me projetou, por inúmeras vezes, àquele garoto franzino que prontamente havia negado o sacerdócio. Decerto, tivesse recebido de Edson, naquela altura da vida, semelhante convite, confesso que ficaria inclinado a aceitá-lo.
Não que o outro sacerdote fosse menos importante do que ele. Não mesmo. A diferença é que Edson é um caso à parte. Ele se diz regra, mas é exceção. Ele é o padre que qualquer católico com uma visão honesta do evangelho gostaria de ser.
Não que outros padres sejam desonestos - com exceção apenas aos que têm ciência disso e não confessam. Até o Edson eu não havia conhecido, pessoalmente, nenhum padre que tivesse convertido de forma tão contundente toda sabedoria decantada no púlpito ao serviço prático de caminhada junto ao povo que sofre do lado de fora da igreja.
Mais do que pregar sobre a justiça social, Edson saiu literalmente às ruas para defendê-la, em postura corajosa e protagonista. A 'Marcha da Cidadania', estimulada por sua liderança, incomodou a ponto de que ele sofresse uma condenação judicial, acusado de ter ofendido a honra de um notório político local.
A esse tempo, Edson não esteve sozinho no clero na denúncia do malfeito público. Faço uma justa lembrança desta exceção: o histórico discurso do querido monsenhor Achiles Pinheiro, por ocasião de um título recebido da Câmara Municipal. Servido de seu refinado humor, ele destilou sua crítica social em plena sessão solene. Foi aplaudido de pé. A paróquia dele? Sagrada Família.
Aos que enxergam em Edson apenas uma figura midiática da Igreja, é mister lembrar que antes de posicionar-se como um ativo militante religioso na defesa do bem público, ele tem cuidado com mais esmero ainda do patrimônio que a ele é confiado. O antes e o depois dele na Sagrada Família respondem por si só.
Mais: em seu ofício sacerdotal não era incomum que, em um mesmo domingo, ele chegasse a celebrar quatro missas com a mesma disposição e ainda terminasse o dia, quiçá, virasse a madrugada, ofertando alimento, conselhos e alegria a andarilhos, os quais chamava pelo nome. Eu vi e ouvi tudo isso.
Como não amar um sacerdote assim?
Confesso que, por essa e tantas outras, não obstante seja o pior dos pecados, o orgulho apoderou-se de mim e de tantos outros paroquianos quando da frequente citação nas mídias em outras comunidades ao "padre Edson da Sagrada Família".
É claro que não tenho aqui nenhuma intenção de canonizar o Edson. Nem deveria. Tal qual um ser humano qualquer, ele tem seus defeitos e não agradará a todos. Inclusive a outros padres, bispos. Edson sabe disso. Tanto que seu discurso tanto provoca o status quo do clero quanto desperta as consciências do laicato em busca de uma igreja menos passiva e mais relevante na vida da sociedade.
A Igreja Católica teria algum dia a coragem de nomeá-lo bispo? Duvido. Talvez, ainda por Francisco.
Fato é que, seja qual for o paramento que vestir até o final de seus dias presbiteriais, Edson manterá viva a esperança de uma igreja menos clericista e mais missionária. E, claro, inspirará novas vocações - o que, aliás, ja tem ocorrido. Onde? Também na Sagrada Família.
Quanto a mim, segui meus desígnios: casei-me com uma mulher maravilhosa que me permitiu a paternidade. Uma Maria e um Joshua - mais um varão, teria a 'Sagrada Família' para contar como filhos.
Tivesse optado por um chamado diferente, eu certamente seria um Edson. Que honra! Ah, se eu fosse um sacerdote...."

                                       ( Rodrigo Viudes )

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