"Esta tarde, Senhor, estou sozinho.
Na Igreja, pouco a pouco, os ruídos se calaram,
foi-se embora toda a gente,
E eu voltei para casa, Passo a passo, Sozinho.
Cruzei com gente que voltava de um passeio.
Passei pelo cinema: vomitava uma pequena multidão.
Vaguei ao longo dos terraços de cafés onde, cansados, os passeadores, tudo faziam para esticar um pouco mais a alegria de viver de um Domingo de festa.
Esbarrei nos miudos que jogavam bola na calçada,
Os garotos, Senhor, Os filhos dos outros, que nunca serão os meus.
E aqui estou, Senhor, Sozinho.
O silêncio me dói
O silêncio me oprime.
Ainda sou jovem, Senhor,
Um corpo feito como os outros corpos,
Braços moços para o trabalho,
Um coração reservado para o amor,
Mas tudo isto Te dei.
É verdade que de tudo precisavas,
Tudo te dei, mas é duro, Senhor.
É duro dar o próprio corpo: ele queria dar-se a outros.
É duro amar toda a gente e não possuir ninguém.
É duro apertar uma mão sem poder retê-Ia.
É duro fazer que brote uma afeição, para dá-Ia a Ti.
É duro nada ser para si mesmo, afim de ser tudo para eles.
É duro ser com os outros, entre os outros e ser um outro.
É duro dar sem cessar, sem procurar receber.
É duro ir ao encontro dos outr0s, sem que jamais alguém venha ao nosso encontro.
É duro sofrer os pecados dos outros, sem poder recusar acolhê-Ios e carregá-Ios.
É duro receber os segredos, sem poder compartilha-Ios.
É duro arrastar os outros sem cessar e nunca poder, um instante sequer, deixar-se arrastar pelos outros.
É duro sustentar os fracos sem poder apoiar-se sobre um forte.
É duro estar sozinho. Sozinho diante de todos .. Sozinho diante do mundo, Sozinho diante do sofrimento, Do pecado, Da morte."
Tirado da Página Fragmentos ou Pedaços de uma Vida
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